domingo, 11 de abril de 2010

A Igreja e a salvação dos não-católicos

Caro Visitante, aqui vão alguns passos da Declaração Dominus Iesus, aprovada pelo Papa João Paulo II, que tanta polêmica suscitou, mas que exprime perfeitamente a verdadeira fé da Igreja de Cristo. Às vezes, temos a tentação de imaginar uma Igreja da nossa cabeça e à nossa medida. Então, deliramos! Quem se interessar em saber a real doutrina da Igreja sobre a possibilidade de salvação para quem não está nela visivelmente, pode ler quanto segue... Ao ser ordenado, jurei pregar e defender a fé católica, em comunhão com o Papa e em plena fidelidade ao Magistério. Por isso transcrevo com alegria estas linhas. Não são minhas; sou apenas um simples divulgador da fé da Igreja de Cristo...



      No. 16: Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada. Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: «uma só Igreja católica e apostólica». Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito (cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar. 

      Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: «Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar (cf. Jo 21,17), encarregando-o a Ele e aos demais Apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,18ss.); levantando-a para sempre como coluna e esteio da verdade (cf. 1Tm 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste [subsistit in] na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele». Com a expressão «subsistit in», o Concílio Vaticano II quis harmonizar duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que «existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição », isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica[1]. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que «o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica».

[1] É, portanto, contrária ao significado autêntico do texto do Concílio a interpretação que leva a deduzir da fórmula subsistit in a tese, segundo a qual, a única Igreja de Cristo poderia também subsistir em Igrejas e Comunidades eclesiais não católicas. «O Concílio, invés, adotou a palavra “subsistit” precisamente para esclarecer que existe uma só “subsistência” da verdadeira Igreja, ao passo que fora da sua composição visível existem apenas “elementa Ecclesiae”, que — por serem elementos da própria Igreja — tendem e conduzem para a Igreja Católica» [Congr. para a Doutrina da Fé, Notificação sobre o volume “Igreja: carisma e poder” do Fr. Leonardo Boff: AAS 77 (1985) 756-762].

      No.17: Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. As Igrejas que, embora não estando em perfeita comunhão com a Igreja Católica, se mantêm unidas a esta por vínculos estreitíssimos, como são a sucessão apostólica e uma válida Eucaristia, são verdadeiras Igrejas particulares. Por isso, também nestas Igrejas está presente e atua a Igreja de Cristo, embora lhes falte a plena comunhão com a Igreja católica, enquanto não aceitam a doutrina católica do Primado que, por vontade de Deus, o Bispo de Roma objetivamente tem e exerce sobre toda a Igreja.

      As Comunidades eclesiais, invés, que não conservaram um válido episcopado e a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico, não são Igrejas em sentido próprio. Os que, porém, foram batizados nestas Comunidades estão pelo Batismo incorporados em Cristo e, portanto, vivem numa certa comunhão, se bem que imperfeita, com a Igreja. O Batismo, efetivamente, tende por si ao completo desenvolvimento da vida em Cristo, através da íntegra profissão de fé, da Eucaristia e da plena comunhão na Igreja.

      «Os fiéis não podem, por conseguinte, imaginar a Igreja de Cristo como se fosse a soma — diferenciada e, de certo modo, também unitária — das Igrejas e Comunidades eclesiais; nem lhes é permitido pensar que a Igreja de Cristo hoje já não exista em parte alguma, tornando-se, assim, um mero objeto de procura por parte de todas as Igrejas e Comunidades». «Os elementos desta Igreja já realizada existem, reunidos na sua plenitude, na Igreja Católica e, sem essa plenitude, nas demais Comunidades». «Por isso, as próprias Igrejas e Comunidades separadas, embora pensemos que têm faltas, não se pode dizer que não tenham peso no mistério da salvação ou sejam vazias de significado, já que o Espírito Se não recusa a servir-Se delas como de instrumentos de salvação, cujo valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica».

      A falta de unidade entre os cristãos é certamente uma ferida para a Igreja; não no sentido de estar privada da sua unidade, mas «porque a divisão é um obstáculo à plena realização da sua universalidade na história».



      No. 20: Antes de mais, deve crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Batismo tal como por uma porta ». Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tm 2,4); daí « a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação ».

      A Igreja é « sacramento universal de salvação», porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem. Para aqueles que não são formal e visivelmente membros da Igreja, « a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo ». Tem uma relação com a Igreja, que por sua vez « tem a sua origem na missão do Filho e na missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai ».



      No. 21. Quanto ao modo como a graça salvífica de Deus, dada sempre através de Cristo no Espírito e em relação misteriosa com a Igreja, atinge os não cristãos, o Concílio Vaticano II limitou-se a afirmar que Deus a dá « por caminhos só por Ele conhecidos ». A teologia esforça-se por aprofundar a questão. Há que encorajar esse esforço teológico, que sem dúvida serve para aumentar a compreensão dos desígnios salvíficos de Deus e dos caminhos que os realizam. Todavia, de quanto acima foi dito sobre a mediação de Jesus Cristo e sobre a « relação única e singular» que a Igreja tem com o Reino de Deus entre os homens — que é substancialmente o Reino de Cristo Salvador universal —, seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma, embora convergindo com ela para o Reino escatológico de Deus.

      Não há dúvida que as diversas tradições religiosas contêm e oferecem elementos de religiosidade, que procedem de Deus, e que fazem parte de « quanto o Espírito opera no coração dos homens e na história dos povos, nas culturas e religiões ». Com efeito, algumas orações e ritos das outras religiões podem assumir um papel de preparação ao Evangelho, enquanto ocasiões ou pedagogias que estimulam os corações dos homens a se abrirem à ação de Deus. Não se lhes pode porém atribuir a origem divina nem a eficácia salvífica ex opere operato, própria dos sacramentos cristãos. Por outro lado, não se pode ignorar que certos ritos, enquanto dependentes da superstição ou de outros erros (cf. 1 Cor 10,20-21), são mais propriamente um obstáculo à salvação.



      No. 22. Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. At 17,30-31). Esta verdade de fé nada tira ao fato de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” ». Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objetivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação. Há que lembrar, todavia, « a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo ». Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja « anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo.

Por: Dom Henrique Soares da Costa

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Um verdadeiro critério para um verdadeiro católico


      A Igreja de Cristo é peregrina; caminha na história. Isto faz parte da sua essência, pois que ela é continuadora e testemunha da obra salvífica de Deus que, sendo eterno e imutável, entrou no tempo dos homens, primeiro na história de Israel, o Povo eleito da Antiga Aliança e, na plenitude dos tempos, de modo pleno, em Jesus Cristo, Cabeça e princípio da Igreja e Salvador da humanidade.

      A verdade de Deus, transmitida na Tradição apostólica, é imutável, mas vai sendo compreendida cada vez mais, cada vez melhor, cada vez de modo mais abrangente pela Igreja através do tempo. Não há como fugir disso: a temporalidade, a progressão, é inerente ao homem! Como também as limitações da cultura de cada tempo e civilização. E a Igreja, portadora da eternidade que entrou no tempo, vai peregrinando, vai compreendendo sempre mais e melhor nos caminhos da história; assim vai exprimindo sempre a mesma Verdade - que não é simplesmente uma teoria ou uma doutrina, mas uma Pessoa: Jesus Cristo - de modos novos e com palavras novas.

      Mas, ela não precisa temer! Cristo lhe prometeu: “Eu estarei convosco até o fim dos tempos!” Prometeu-lhe também o “Espírito da Verdade”, que haverá sempre de conduzir adiante a sua Igreja, até a Verdade plena, pois testemunhará sempre Jesus e sua salvação: “Ele tomará do que é meu e vo-lo anunciará!” Por isso a Igreja sabe que nunca poderá errar na sua profissão de fé.

      Essa profissão não é um velho baú, cheio de verdades teóricas enferrujadas, mas, ao invés, é a viva Tradição apostólica, sempre interpretada de novo sob a guia do Espírito Santo, suscitando sempre novos desafios ante os desafios de cada época, de modo que, cada geração eclesial pode ter certeza de permanecer na mesma fé, sempre igual e sempre nova.

      E para que a guarda da verdadeira fé e o modo de interpretá-la e transmiti-la fosse autêntico, sem cair nos delírios dos avançados nem no medo e no apego doentio a uma segurança do passado, própria dos atrasados, Cristo dotou a sua Igreja de um Magistério, formado pelo Papa, Sucessor de Pedro, e pelos Bispos em comunhão com ele, sucessores dos Apóstolos. Somente eles têm a autoridade dada pelo Cristo e confirmada pelo Espírito de interpretar retamente a fé da Igreja.

      Num mundo confuso, numa Igreja batida por tantas ondas, quando Satanás, ao não vencer pelo menos do relaxamento e da secularização, tenta enganar pelo mais do exagero e de um tradicionalismo tão bobo quanto prepotente, a humilde comunhão com os pastores reais que o Cristo real colocou à frente do rebanho, é a mais decisiva garantia de que estamos seguros na verdadeira fé. Que Deus nos conserve, caro Visitante, neste caminho! As portas do inferno não prevalecerão! Valerá sempre o velho axioma, tão repetido pela sã Tradição: Ubi Petrus, ibi Ecclesia catholica!” – Onde está Pedro, aí está a Igreja católica! Para não haver dúvida: o nome de Pedro é Bento XVI...

Por: Dom Henrique Soares da Costa

Até a VEJA compreendeu o que a Igreja nunca escondeu!

Olhe só, caro Internauta, com toda incompetência quando fala de catolicismo e com todo ranço contra a Igreja, até a revista Veja  compreendeu o sentido do documento do Papa. Só tem alguns errinhos, que apontarei ao fim da matéria. Mas, vale ler:

      No documento divulgado pelo Vaticano na semana passada, o papa Bento XVI reforça um aspecto central da doutrina católica. Intitulado Respostas a Questões Relativas a Alguns Aspectos da Doutrina sobre a Igreja, o texto reafirma a Igreja Católica como a única Igreja de Cristo. Elaborado pela Congregação para a Doutrina da Fé em forma de perguntas e respostas e ratificado pelo papa, o documento tem por objetivo esclarecer interpretações teológicas modernosas, surgidas com o Concílio Vaticano II, na década de 60. "As comunidades cristãs nascidas da Reforma do século XVI não conservam a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico e não podem ser chamadas Igrejas em sentido próprio, segundo a doutrina católica", diz o texto. A declaração causou protestos entre os protestantes e os ortodoxos. Acusa-se o papa de dificultar o diálogo ecumênico. Mas bancar as madalenas enganadas não passa de jogo de cena dos cristãos não-católicos. Afinal de contas, em mais de 2.000 anos de história, a Igreja Católica nunca relativizou essa posição.
      O próprio nome da Igreja expressa como ela sempre se enxergou única. A Igreja é Católica (palavra de origem grega que significa "universal"), Apostólica (fundada por Pedro e Paulo, herdeiros diretos da verdade de Cristo) e Romana (não há legitimidade cristã fora do âmbito papal). A unicidade é reforçada, ainda, por dois dos oito títulos exibidos por um papa – o pontífice romano é o Vigário de Jesus Cristo e o Sucessor do Príncipe dos Apóstolos (Pedro). Depois do Concílio Vaticano II, que fez entrar uma lufada de ar fresco na Santa Sé, passou a ser politicamente incorreto bater nessa tecla. Em especial, porque criava embaraços com as outras vertentes do cristianismo, com as quais se procurava estabelecer algum diálogo.

      Por que Bento XVI voltou a afirmar o caráter único da Igreja Católica? Para diminuir o ruído provocado pelos desvarios dos padrecos que, ao questionar a autoridade de Roma em matéria teológica, tentam também retirar a excelência que a Igreja se atribui. Trata-se de uma limpeza de horizontes periódica. Em 2000, por exemplo, ainda como o cardeal Joseph Ratzinger, ele assinou um documento sobre a universalidade de Jesus Cristo e da Igreja, chamado Dominus Iesus. Nele, está dito que os cristãos não pertencentes à Igreja Católica se encontram em situação deficitária na busca por salvação quando comparados aos católicos. Em 2006, Bento XVI renunciou ao título de Patriarca do Ocidente justamente porque, do ponto de vista da universalidade da Igreja, era contraditório reconhecer a existência de uma Igreja do Oriente.

Observações minhas:
1) “Católica” não quer dizer somente universal; quer dizer também “segundo a totalidade”, isto é: a Igreja tem a totalidade daquelas características que Cristo deu à sua Igreja;

2) “Romana” não é uma das características da Igreja; mas somente uma indicação do Primado do Bispo de Roma, como Sucessor de Pedro;

3) Bento XVI renunciou ao título de “Patriarca do Ocidente” porque não fazia mais sentido: na antiguidade, “Ocidente” era a parte latina do Império Romano. O Oriente tinha quatro patriarcas: Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém; o Ocidente tinha somente o de Roma. Mas hoje, quando se fala “ocidente” pensa-se nos Estados Unidos e seus aliados europeus. E disso o Papa não é nem quer ser patriarca. Para evitar esse mal-entendido, o Papa renunciou ao título;

4) Mas, quanto às “interpretações modernosas”, as “madalenas enganadas” e os “desvarios dos padrecos”, a revista está certíssima!

Vaticano II? Sim! Mas, qual?


    Muita gente interpretou e interpreta o Concílio Vaticano II como uma ruptura com o passado. É comum até mesmo em salas de aula de cursos de teologia encontrar professores ridicularizando gostosamente a Igreja "pré-conciliar". Segundo essa mentalidade, antes do Concílio tudo era imperfeito e a Igreja era um museu: autoritária, alienada e afastada do mundo... Após o Concílio, ao invés, tudo é maravilhoso, tudo se faz novo e deve ser fazer de novo! Certamente, tal interpretação é totalmente equivocada. Bento XVI a chama de hermenêutica da descontinuidade. Segundo o Papa, o modo correto de compreender o Vaticano II é a hermenêutica da reforma: na força do Espírito Santo a Igreja viva vai sendo sempre e gradualmente reformada... O Vaticano II é apenas mais um evento desse contínuo processo que vai de Cristo até o fim dos tempos. O Concílio não rompeu com o passado, mas o relê e o reinterpreta no presente... Vejam só algumas frases de Bento XVI, no seu discurso de final de ano à Cúria Romana neste 2005:

“Por um lado, dá-se uma interpretação que gostaria de chamar de 'hermenêutica da descontinuidade e da ruptura'; com freqüência pôde servir-se da simpatia dos meios de comunicação, e também de uma parte da teologia moderna. Por outra parte, dá-se a 'hermenêutica da reforma', da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos deu; é um sujeito único do Povo de Deus em caminho”.
“A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de acabar em uma ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar. Afirma que os textos do Concílio como tal não seriam a autêntica expressão do espírito do Concílio. Seriam o resultado de compromissos nos quais, para alcançar a unanimidade, teve-se que lutar contra muitas coisas velhas que hoje são inúteis. No entanto, o verdadeiro espírito do Concílio não se revelaria nestes compromissos, mas nos impulsos para o novo que estão subentendidos nos mesmos: só estes representariam o verdadeiro espírito do Concílio e partindo deles e em conformidade com eles haveria que seguir adiante. Precisamente porque os textos refletiriam somente de maneira imperfeita o verdadeiro espírito do Concílio e sua novidade, seria necessário ir corajosamente mais além dos textos, deixando espaço à novidade na que se expressaria a intenção mais profunda, ainda que todavia não clara, do Concílio. Em uma palavra, não haveria que seguir os textos do Concílio, mas seu espírito…”
Depois de criticar duramente essa hermenêutica da descontinuidade, o Papa alerta para a necessidade de interpretar e viver o Concílio no espírito de continuidade com a grande Tradição da Igreja. Nesta perspectiva, sim, o Vaticano II já deu e continuará dando inúmeros e preciosos frutos à Igreja de Cristo!....


Por: Dom Henrique Soares da Costa