domingo, 17 de julho de 2011

ÍCONE DO NASCIMENTO DE CRISTO

      A iconografia clássica do Nascimento de Cristo, que vemos no ícone reproduzido, tem seu protótipo nos tesouros dos séculos V e VI.
      A parte descritiva do ícone corresponde ao Kondakion da Festa: “Hoje a Virgem dá à luz o Eterno e a terra é uma gruta ao Inacessível. Os Anjos e os Pastores louvam-no e os Magos com a estrela avançam. Tu nasceste para nós, ó Menino, Deus Pré– eterno”. Duas outras cenas, baseadas na Tradição, aparecem nos quantos inferiores.


      Em seu contexto o ícone do Nascimento de Cristo tem dois aspectos fundamentais: primeiro de tudo, desenvolve plenamente a essência deste evento, que é a Encarnação de Deus; ele nos coloca diante de um testemunho visível do mais fundamental na Fé cristã, sublinhando por meio de seus detalhes tanto a divindade como a natureza humana do Verbo feito carne. Segundamente, o ícone do Nascimento nos mostra o efeito deste evento na vida natural do mundo, dado como uma perspectiva de todas as suas conseqüências.
      De acordo com as palavras de São Gregório o Teólogo, o Nascimento de Cristo “não é uma festa da criação mas uma festa da re-criação”, de um renovo, que santifica o mundo todo. Através da Encarnação de Deus, toda criação adquire um significado diferente debruçando-se no fim de sua razão de ser, ou melhor do que deve e é chamada a ser.
      Assim, toda criação toma parte no evento e no ciclo da Divina Criança, recém-nascida – vemos representantes de todo mundo criado, cada um rendendo e cumprindo seu serviço; como a própria Igreja nos diz: cada um dando graças em e por seu caminho. “O quê Te vamos oferecer, ó Cristo,Tu Que por nós, Te manifestaste na terra como homem? Com efeito, cada uma das criaturas saídas de Ti T apresenta seu testemunho de gratidão: os Anjos, os seus cânticos; os céus, a estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a sua veneração; a terra, a gruta; o deserto, o presépio...” A isso o ícone soma dons do mundo vegetal e animal.
      Do ponto de vista de ambos, o sentido e a composição, o centro do ícone, para qual todos os detalhes de uma maneira ou de outra convergem, está o Menino envolto em panos, deitado na manjedoura, tendo como fundo a gruta escura. O negro abismo da gruta neste ícone é, em seu sentido simbólico, precisamente este mundo, tomado e corrompido pelo pecado em virtude da queda do homem.
     Gruta, manjedoura, panos – são indicações do rebaixamento voluntário de Deus, Sua extrema humildade, que invisível em Sua natureza, torna-Se visível na carne para salvação dos homens.
      Na gruta, próximo à manjedoura, aparece um boi e um jumento. O Evangelho não fala deles, mesmo apesar de estarem presentes em todas as imagens do Nascimento de Cristo; eles estão imediatamente próximo à divina Criança. Seu lugar no próprio centro do ícone aponta a importância dada pela Igreja a este detalhe.
      Olhando para o ícone do Nascimento de Cristo, a primeira coisa que nos chama atenção é a posição da Mãe de Deus e o lugar que Ela ocupa. Nesta festa da “re-criação”, Ela é o “renovo de todos os nascentes da Terra”, a nova Eva. Assim como a primeira Eva torna-se a mãe do povo vivo, a nova Eva torna-se a Mãe de todo povo que renasce, renovado, que vive segundo Deus através da Encarnação do Filho de Deus.
      O ícone do Nascimento sublinha graficamente o papel da Mãe de Deus, colocando-A em destaque em relação a todas as outras figuras pela Sua posição central e, por vezes, por seu tamanho. Ela está deitada bem perto do Menino, mas quase sempre, fora da gruta, numa cama – um tipo de leito em que os judeus carregavam consigo quando viajavam.
      Ao redor do grupo do centro – o Menino com Sua Mãe – estão agrupados todos os detalhes, como dizemos, testificando a própria Encarnação e trazendo seus efeitos sobre todo mundo criado.
     Anjos realizam um serviço secundário: eles glorificam e trazem boas disposições. Num ícone isto é comumente expresso pelo fato de alguns dentre eles estarem virados para o centro, cantando glória a Deus, outros misturados aos homens, lhes inspiram boas disposições.
     Do outro lado da gruta estão os sábios (os Magos), guiados pela estrela. Eles são representados carregando dons.
      Um feixe de luz vindo do céu aponta para gruta, diretamente. Estes raios conectam a estrela com a parte da esfera que vai para além dos limites do ícone – uma representação simbólica do mundo celeste. Assim, o ícone mostra que a estrela não é um único fenômeno cósmico, mas também um mensageiro do mundo do Alto, trazendo boas novas do nascimento d´Aquele que vem do Alto

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